segunda-feira, 31 de maio de 2010

E você é um cidadão ?

        O Nascimento de um Cidadão
                                   Moacyr Scliar

Para renascer, e às vezes para nascer, é preciso morrer, e ele começou morrendo. Foi uma morte até certo ponto anunciada, precedida de uma lenta e ignominiosa agonia. Que teve início numa sexta-feira. O patrão chamou-o e disse, num tom quase casual, que ele estava despedido: contenção de custos, você sabe como é, a situação não está boa, tenho que dispensar gente.
Por mais que esperasse esse anúncio, que na verdade até tardara um pouco, muitos outros já haviam sido postos na rua – foi um choque. Afinal, fazia cinco anos que trabalhava na empresa. Um cargo modesto, de empacotador, mas ele nunca pretendera mais: afinal, mal sabia ler e escrever. O salário não era grande coisa, mas permitira-lhe, com muito esforço, sustentar a família, esposa e dois filhos pequenos. Mas já não tinha salário, não tinha emprego – não tinha nada.
Passou no departamento de pessoal, assinou os papéis que lhe apresentaram, recebeu seu derradeiro pagamento, e, de repente, estava na rua. Uma rua movimentada, cheia de gente apressada. Gente que vinha de lugares e que ia para outros lugares. Gente que sabia o que fazer.
Ele, não. Ele não sabia o que fazer. Habitualmente iria para casa, contente com a perspectiva do fim de semana, o passeio no parque com os filhos, a conversa com os amigos. Agora, a situação era outra. Como poderia chegar em casa e contar à mulher que estava desempregado? À mulher, que se sacrificava tanto, que fazia das tripas coração para manter a casa funcionando? Para criar coragem, entrou num bar, pediu um martelo de cachaça, depois outro e mais outro. A bebida não o reconfortava; ao contrário, sentia-se cada vez pior. Sem alternativa, tomou o ônibus para o humilde bairro em que morava.
A reação da mulher foi ainda pior do que ele esperava. Transtornada; torcia as mãos e gritava angustiada, o que é que vamos fazer, o que é que vamos fazer. Ele tentou encorajá-la, disse que de imediato procuraria emprego. De imediato significava, naturalmente, segunda-feira; mas antes disto havia o sábado e o domingo, muitas horas penosas que ele teria de suportar. E só havia um jeito de fazê-lo: bebendo. Passou o fim de semana embriagado. Embriagado e brigando coma mulher.
Quando, na segunda-feira, saiu de casa para procurar trabalho, sentia-se de antemão derrotado. Foi a outras empresas, procurou conhecidos, esteve no sindicato; como antecipara, as repostas eram negativas. Terça foi a mesma coisa, quarta também, e quinta, e sexta. O dinheiro esgotava-se rapidamente, tanto mais que o filho menor, de um ano e meio, estava doente e precisava ser medicado. E assim chegou o fim de semana. Na sexta à noite ele tomou uma decisão: não voltaria para casa.
Não tinha como fazê-lo. Não poderia ver os filhos chorando, a mulher a mirá-lo com ar acusador. Ficou no bar até que o dono o expulsou, e depois saiu a caminhar, cambaleante. Era muito tarde, mas ele não estava sozinho. Nas ruas havia muitos como ele, gente que não tinha onde morar, ou que não queria um lugar para morar. Havia um grupo deitado sob uma marquise, homens, mulheres e crianças. Perguntou se podia ficar com eles. Ninguém lhe respondeu e ele tomou o silêncio como concordância. Passou a noite ali, dormindo sobre jornais. Um sono inquieto, cheio de pesadelos. De qualquer modo, clareou o dia e quando isto aconteceu ele sentiu um inexplicável alívio: era como se tivesse ultrapassado uma barreira, como se tivesse se livrado de um peso. Como se tivesse morrido? Sim, como se tivesse morrido. Morrer não lhe parecia tão ruim, muitas vezes pensara em imitar o gesto do pai que, ele ainda criança, se atirara sob um trem. Muitas vezes pensava nesse homem, com quem nunca tivera muito contato e imaginava-o sempre sorrindo 9coisa que em realidade raramente acontecia) e feliz. Se ele próprio não se matara, fora por causa da família; agora, que a família era coisa do passado, nada mais o prendia à vida.
Mas também nada o empurrava para a morte. Porque, num certo sentido, era um morto-vivo. Não tinha passado e também não tinha futuro. O futuro era uma incógnita que não se preocupava em desvendar. Se aparecesse comida, comeria; se aparecesse bebida, beberia (e bebida nunca faltava; comprava-a com esmolas. Quando não tinha dinheiro sempre havia alguém para alcançar-lhe a garrafa). Quanto ao passado, começava a sumir na espessa névoa de um olvido que o surpreendia – com esqueço rápido as coisas, meu Deus – mas que não recusava; ao contrário, recebia-o como uma bênção. Como uma absolvição. A primeira coisa que esqueceu foi o rosto do filho maior, garoto chato, sempre a reclamar, sempre a pedir coisas. Depois, foi o filho mais novo, que também chorava muito, mas não pedia nada – ainda não falava. Por último, foi-se a face devastada da mulher, aquela face que um dia ele achara bela, que lhe aquecera o coração. Junto com os rosto, foram os nomes. Não lembrava mais como se chamavam.
E aí começou a esquecer coisas a respeito de si próprio. A empresa em que trabalhara. O endereço da casa onde morara. A sua idade – para que precisava saber a idade? Por fim, esqueceu o próprio nome.
Aquilo foi mais difícil. É verdade que, havia muito tempo, ninguém lhe chamava pelo nome. Vagando de um lado para outro, de bairro em bairro, de cidade em cidade, todos lhe eram desconhecidos e ninguém exigia apresentação. Mesmo assim foi com certa inquietação que pela primeira vez se perguntou: como é mesmo o meu nome? Tentou, por algum tempo se lembrar. Era um nome comum, sem nenhuma peculiaridade, algo como José da Silva (mas não era José da Silva); mas isto, ao invés de facilitar, só lhe dificultava a tarefa. Em algum momento tivera uma carteira de identidade que sempre carregara consigo; mas perdera esse documento. Não se preocupara – não lhe fazia falta. Agora esquecia o nome... Ficou aborrecido, mas não por muito tempo. É alguma doença, concluiu, e esta explicação o absolvia: um doente não é obrigado a lembrar nada.
De qualquer modo, aquilo mexeu com ele. Pela primeira vez em muito tempo – quanto tempo? Meses, anos? – decidiu fazer alguma coisa. Resolveu tomar um banho. O que não era habitual em sua vida, pelo contrário: já não sabia mais a quanto tempo não se lavava. A sujeira formava nele uma crosta – que de certo modo o protegia. Agora, porém, trataria de lavar-se, de aparecer como fora no passado.
Conhecia um lugar, um abrigo mantido por uma ordem religiosa. Foi recebido por um silencioso padre, que lhe deu uma toalha, um pedaço de sabão e o conduziu até o chuveiro. Ali ficou, muito tempo, olhando a água que corria para o ralo – escura no início, depois mais clara. Fez a barba, também. E um empregado lhe cortou o cabelo, que lhe chegara aos ombros. Enrolado na toalha, foi buscar as roupas. Surpresa:
- Joguei fora – disse o padre. – Fediam demais.
Antes que ele pudesse protestar, o padre entregou-lhe um pacote:
- Tome. É uma roupa decente.
Ele entrou no vestiário. O pacote continha cuecas, camisa, uma calça, meias, sapatos. Tudo usado, mas em bom estado. Limpo. Ele vestiu-se, olhou no espelho. E ficou encantado: não reconhecia o homem que via ali. Ao sair, o padre, de trás de um balcão, interpelou-o:
- Como é mesmo o seu nome?
Ele não teve coragem de confessar que esquecera como se chamava.
- José da Silva.
O padre lançou-lhe um olhar penetrante – provavelmente todos ali eram José da Silva – mas não disse nada. Limitou-se a fazer uma notação num grande caderno.
Ele saiu. E sentia-se outro. Sentia-se como que – embriagado? – sim, como que embriagado. Mas embriagado pelo céu, pela luz do sol, pelas árvores, pela multiradão que enchia as ruas. Tão arrebatado estava que, ao atravessar a avenida, não viu o ônibus. O choque, tremendo, jogou-o à distância. Ali ficou, imóvel, caído sobre o asfalto, as pessoas rodeando-o. Curiosamente, não tinha dor; ao contrário, sentia-se leve, quase que como flutuando. Deve ser o banho, pensou.
Alguém se inclinou sobre ele, um policial. Que lhe perguntou:
- Como é que está, cidadão? Dá para agüentar, cidadão?
Isso ele não sabia. Nem tinha importância. Agora sabia quem era. Era um cidadão. Não tinha nome, mas tinha um título: cidadão. Ser cidadão era, para ele, o começo de tudo. Ou o fim de tudo. Seus olhos se fecharam. Mas seu rosto se abriu num sorriso. O último sorriso do cidadão.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Revista Viração *-*

    Mudança, atitude e ousadia jovem!

No dia 19 de maio de 2010 (quarta-feira) fomos visitar a Revista Viração, uma entidade não governamental de educomunicação sem fins lucrativos, criada em Março de 2003 que recebe o apoio institucional do Fundo das Nações Unidas (UNICEF).
O objetivo da revista é mostrar que os adolescentes são capazes de discutir positivamente os fatos sociais de grande repercussão, por isso, as matérias publicadas são produzidas por jovens.
A revista é independente podendo assim se expressar livremente.

Gosta de escrever reportagens? Curte fotos, poesias,artigos ou charges?
Participe! Mande seu material para a entidade, segue o link.
.. redação@revistaviração.org.br -> http:// twiiter.com/viração









segunda-feira, 24 de maio de 2010

Comunicado - Visita Museu da Lingua Portuguesa

Dia 26/05 às 9h30min encontraremos a professora Regina, no Museu da Lingua Portuguesa, na estação da Luz. O valor da entrada é R$ 6,00, estudante paga meia:)
Caso alguém não saiba ir, uma parte do grupo estará no mêtro Penha, às 8h30mim no quiosque da Nescafé.
.. Beeijos!

Salada de Frutas

Dinâmica proposta pelo Grupo de Trabalho Clima.

Todos sentados em círculo com as mãos e as cadeiras livres, em posição fácil de se levantar.
Cada participante recebeu um nome de uma fruta, formando três ou quatro grupos de frutas.O facilitador gritou o nome de uma das frutas, e os participantes tinham que trocar rapidamente de cadeira com outros colegas da mesma fruta, e quando o facilitador falasse salada mista, todos tinham que trocar de cadeira.
Objetivo: Aquecimento dos aprendizes \õ/




Conjunto Nacional

Os aprendizes da turma 34 do Senac-Penha visitam à Livraria Cultura, na Consolação, com a Docente Regina.








segunda-feira, 17 de maio de 2010

Criação de um Dominó


A dinâmica proposta em sala de aula testava o espirito de liderança, pois um dos componentes do grupo e o professor estavam combinados e criticavam o desenvolvimento de trabalho, para verificar a união da equipe e a persistência do lider.




Comunicado - Visita á Revista Viração

Pessoal dia 19/05, ás 9h30min na estação Trianon Masp (Linha Verde) - saída mais próxima da Fiesp(catraca), para visitarmos com a professora Regina, a Revista Viração.
Caso alguém não saiba ir, uma parte do grupo estará no mêtro Penha, as 8h30min no quiosque da Nescafé.

Beijoos e ate lá :D

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Arte e Tecnologia

Os aprendizes da turma 34 do Senac-Penha visitam à Arte Hi-Tech.


No dia 26 de abril de 2010 (segunda-feira), fomos à exposição Arte Hi Tech, no metrô. As obras encontram-se expostas nas estações Corinthians-Itaquera, República, Brás, Tiradentes, Paraíso e Sé.

Principiamos pela obra chamada Chuva de Letras na estação Corinthians-Itaquera. Em uma tela, os expectadores podem interagir com a obra e formar palavras e frases a partir da chuva de letras. Em seguida, nos dirigimos para a estação Brás, onde estava exposta a obra Descendo Escada de Regina Silveira, nesta simulamos uma descida virtual por uma escada projetada em um telão.

A obra que se encontra na estação Sé do metrô estava com problemas e não podemos vê-la. Na República, com o movimento das mãos, produzimos notas musicais na OPERA – Sonic dimension, de Daniela Kutschat e Rejane Cantoni. No Paraíso, encontramos as flores dente de leão, que voavam conforme fossem soprados microfones. A Cachoeira de Algarismos de Raquel Kogan está na estação Tiradentes, nesta obra, apertando os números em um balcão, era possível alterar a velocidade de movimento da cachoeira de números projetada em uma tela.


A mais legal foi a Ópera Musical, porque ela chama mais à atenção ao emitir sons através dos movimentos das mãos, a estrutura é formada por cordas que são semelhantes às de uma harpa - com sons agudos, graves e médios que provocam uma boa sensação. Além de tudo, pode-se ter um momento de compositor.


A obra Cachoeira de Algarismo não foi tão interessante quanto às outras, chama mais à atenção pelo visual, já que não se interage tanto esta como com as demais. As outras obras tinham uma visão mais real e interessante.


Essa visita encerrou a Estação Tecnologia, com o docente Manoel. Seu objetivo foi mostrar um conceito contemporâneo de arte interativa, fazendo o uso de tecnologia cibernética.